Em uma sociedade que avança a passos largos na aplicação de novas tecnologias, muitas plataformas se apresentam como “as” tendências essenciais para os negócios e depois, repentinamente, cair no esquecimento. É um ciclo denominado de hype cycle. Em 2022, por exemplo, o metaverso invadiu os noticiários e as conversas de 100 entre cada 100 executivos. Na prática, porém, houve avanços tímidos para a realidade virtual dentro de governos e empresas. Em 2023, a bola da vez é a Inteligência Artificial, simbolizada pelo onipresente (e agora também em voz e imagens) ChatGPT.
Lançado pela OpenAI, o chatbot conversador, que começou gerando textos e criando músicas, contratos e trabalhos escolares, acelerou o debate sobre como o avanço da inteligência artificial (IA) pode acontecer de maneira segura. Apesar do entusiasmo global, de todas as vantagens para os negócios e as facilidades para o cotidiano das pessoas, os riscos dessa evolução desenfreada também tomaram conta do imaginário coletivo.
A verdade é que ainda não sabemos quais serão todos os efeitos no futuro, mas é necessário projetar em longo prazo para prever os benefícios e os perigos reais das tecnologias emergentes.
Em 1932, o escritor Aldous Huxley narrou em Admirável Mundo Novo a história de uma sociedade que se mostra em muitos momentos extremamente atual, levantando questionamentos sobre a vida contemporânea e os desafios para o futuro da humanidade. Com personagens complexos, a narrativa envolve o leitor em um universo hipotético, mas passível de diversas – e assombrosamente atuais – comparações com todas as mudanças pelas quais o mundo tem passado ao longo das últimas décadas.
Por meio de criatividade e observação profunda da ciência, Huxley conseguiu prever tecnologias inimagináveis há 90 anos, como a internet, a fertilização in vitro, o cinema 3D, os aplicativos de transportes, a utilização em massa de psicotrópicos para ansiedade, estresse e outros sentimentos negativos dos personagens, as pastilhas de estimulação sexual, os anticoncepcionais e as pílulas de rejuvenescimento.
O fato é que, independentemente do cenário futurista ou atual, a resposta necessária para que as histórias de ficção em que as máquinas dominam o homem não se tornem realidade é a educação, notoriamente o assim chamado “letramento digital” – responsabilidade de todas as companhias que estão desenvolvendo ou utilizando esses sistemas.
É fundamental desenhar os projetos com mecanismos de privacidade e segurança como princípios gerais. É o caso do Google, da Microsoft e de outras big techs, que vêm tentando criar ferramentas de educação sobre IA e modelos que explicam os princípios da tecnologia de forma simplificada e acessível para as pessoas em geral.
Com conhecimento e estruturas de proteção, o ChatGPT tende a se incorporar ao cotidiano de forma mais orgânica ou até mesmo entrar no hype cycle e ser substituído por outra novidade inovadora no ano que vem (acho cada vez mais improvável essa possibilidade)
Nesse cenário, a inteligência artificial pode ir além de entregar um conteúdo pronto. Torço para uma realidade em que os sistemas se integrem ao usuário e ajudem as pessoas a partir de modelos de linguagem humana, mas que simplifiquem e facilitem nossas diversas esferas de existência – e não que as substituam de maneira irreversível. Um trabalho colaborativo, mas com o ser humano no controle, preservando sua individualidade e estimulando suas potencialidades, no sentido oposto do romance profético de Huxley. Cabe a cada um de nós fazer nossa parte para que esse cenário – e não o oposto – se concretize.
*Fernando Moulin é partner da Sponsorb, empresa boutique de business performance, professor e especialista em negócios, transformação digital e experiência do cliente.
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