Apesar do aumento de exceções em relação ao texto aprovado na Câmara dos Deputados, a reforma tributária que passou pelo Senado é capaz de alinhar o Brasil às melhores práticas internacionais de tributação sobre o consumo. A avaliação é de Melina Rocha, consultora internacional em Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
Segundo a especialista, o texto conseguiu preservar as principais marcas do modelo de cobrança de impostos sobre produtos e serviços que é adotado em mais de 170 países.
“Os pilares fundamentais de um modelo de IVA foram preservados. O primeiro pilar é a base ampla, que a gente não tem no atual sistema. Isso é um grande avanço e um pilar do IVA que foi mantido e está estabelecido na PEC. O segundo pilar é a não cumulatividade plena, e o terceiro pilar é o princípio do destino”, avalia.
Dias antes da aprovação da reforma no Senado, o texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019 também recebeu elogios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo a entidade, o formato proposto pela PEC aproxima o país das práticas preconizadas pela própria organização.
Conforme apontou levantamento do Brasil 61, o texto aprovado no Senado incluiu cinco novos regimes de produtos ou serviços entre aqueles que terão direito à alíquota reduzida, redução a 100% ou isenção dos novos tributos. Significa que, na prática, pagarão uma alíquota menor da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que vai substituir IPI, PIS e Cofins, e do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que entra no lugar de ICMS e ISS.
O senador Laercio Oliveira (PP-SE) esteve entre aqueles que votaram a favor da reforma na Casa. Para o parlamentar, é impossível conseguir aprovação absoluta de todos os setores da economia e entes da federação para o mesmo texto. No entanto, ele acredita que a proposta melhora a cobrança sobre o consumo. “A reforma tributária pode não ser perfeita, mas ela certamente avança positivamente em favor de um sistema moderno, eficiente, dinâmico, fácil de ser operacionalizado”, diz.
O congressista afirma que a concessão de vantagens para alguns setores em detrimento de outros é o preço que se paga para aprovar a reforma, embora o melhor fosse ter tratamento igualitário para todos.
“O ideal era que não tivesse exceção alguma. A gente precisa ter um IVA reduzido. A cada exceção que se coloca, sobe um pouco o percentual do IVA, mas é o que foi possível construir. A minha opinião pessoal era que todos fossem tratados igualitariamente, mas para aprovar um projeto da magnitude da reforma tributária é preciso que haja construções das mais diversas possíveis.”
Laercio Oliveira diz que uma eventual sobrecarga sobre alguns setores, como o de serviços, pode ser corrigida posteriormente a partir de avanços em questões tributárias pontuais, como a desoneração definitiva da folha de pagamento.
Em relação ao texto da Câmara, Senado amplia de 16 para 21 as exceções na reforma tributária
OCDE diz que reforma tributária traria crescimento, mas alerta para número de exceções