A plataforma AdaptaBrasil projeta que o número de municípios brasileiros com alto risco potencial de ocorrência de dengue deve aumentar em 51,2% até 2050. De acordo com os dados, atualmente, 532 municípios brasileiros aparecem com risco potencial alto e muito alto para incidência de dengue. O número representa 9,5% do total de 5.570 municipalidades. Para 2050, a perspectiva sobe para 804 nesse mesmo patamar, representando 14% do total de municípios.
A ferramenta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) foi desenvolvida para apoiar a tomada de decisão acerca de medidas de adaptação à mudança do clima. Os dados e análises sobre dengue, que estarão disponíveis em breve na plataforma interativa, irão compor o módulo de saúde da plataforma, que já disponibiliza informações sobre Malária, Leishmaniose Tegumentar Americana e Leishmaniose Visceral.
“Os dados têm uma aderência muito grande com o que está acontecendo atualmente no país”, afirma o coordenador científico da plataforma e pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Jean Ometto. A projeção considera um cenário de mudança climática otimista, em que medidas de redução das emissões de gases de efeito estufa serão implementadas, e se não houver mudanças nos fatores estruturais influenciadores.
Nesta semana, segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil ultrapassou 1,2 milhões de casos prováveis e confirmados da doença, 299 óbitos relacionados foram confirmados e outros 765 estão em investigação. Sete estados e o Distrito Federal decretaram emergência em saúde pública.
Para calcular o risco climático potencial, a plataforma AdaptaBrasil utiliza a abordagem metodológica recomendada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), conhecida como ‘flor de risco’, que considera o tripé ameaças relacionadas ao clima, exposição e vulnerabilidade.
Além dos fatores climáticos, são utilizados dados como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), capacidade dos serviços de saúde, rede de infraestrutura de saneamento, coleta de lixo, abastecimento de água, entre outros dados socioeconômicos.
Amplitude térmica – As variáveis climáticas consideradas para a análise de risco envolvem calor, temperatura máxima, índices de precipitação e amplitude térmica, que expressa a variação da temperatura ao longo do mês, considerando os valores diários de máxima e mínima. “A amplitude térmica é muito importante para a reprodução dos mosquitos”, destaca Ometto. O pesquisador relata que tem sido observado o aumento nas temperaturas máximas e também nas mínimas, como as noites mais quentes. “O deserto, por exemplo, é muito quente durante o dia, mas à noite a temperatura mínima é baixa. Essa condição, normalmente, não é favorável para a reprodução desses vetores”, compara o coordenador.
O aumento da temperatura, de modo geral, acelera os processos biológicos, mas, para completar as condições ideias de reprodução do mosquito, há necessidade de presença de água. A dengue é endêmica no Brasil, mas os casos aumentam no período das chuvas, especialmente durante o verão.
AdaptaBrasil – A plataforma apresenta dados e análises sobre risco e impacto da mudança do clima para setores estratégicos para subsidiar a tomada de decisão sobre adaptação à mudança do clima.
“Nosso esforço é no sentido de disponibilizar as melhores informações com base técnico-científica para a tomada de decisão em termos de adaptação à mudança do clima e de uma forma muito acessível que possa auxiliar gestores públicos e privados de todas as esferas”, explica o coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI, Márcio Rojas.
Além de saúde, são contemplados os setores de infraestrutura, segurança alimentar e energética e recursos hídricos. A plataforma consta na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil como provedor de informações sobre risco climático e tem sido utilizada como apoio para a construção do Plano Clima – Adaptação.
A AdaptaBrasil é desenvolvida por meio de uma cooperação entre MCTI, Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e Inpe, associada a uma rede de instituições especializadas em cada setor estratégico. No caso da saúde, os pesquisadores trabalham com a Fiocruz.