As mudanças no clima já observadas no Brasil nos últimos 60 anos e os impactos dessas alterações sobre o setor industrial, em especial envolvendo as seguranças hídrica, alimentar e energética, estiveram no centro da apresentação efetuada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio da Coordenação-geral de Ciência do Clima (CGCL), em painel sobre o Plano Clima Adaptação e o impacto no setor industrial nacional.
O debate foi realizado logo após a instalação do grupo de trabalho setorial, coordenado pelo de Departamento de Descarbonização do Ministério do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e que reúne 55 representantes de associações setoriais, governo e outras instituições. O grupo vai elaborar a estratégia setorial de adaptação para o setor indústria.
“Temos consciência de que a indústria é um conjunto relativamente heterogêneo de iniciativas e os setores mais sensíveis são aqueles os que demandam mais uso de água e energia, estão em locais expostos e dependentes de infraestruturas específicas particularmente vulneráveis às questões climáticas”, avaliou o coordenador-geral da CGCL, Márcio Rojas. “Nos preocupa essas questões afetarem a produtividade e competitividade, eventualmente inviabilizando determinados processos industriais”, complementou.
Rojas apresentou os resultados sobre as mudanças observadas no clima no Brasil nos últimos 60 anos. De acordo com o estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), realizado a pedido do MCTI para subsidiar o Plano Clima Adaptação, algumas áreas no Brasil já estão com temperaturas máximas 3oC mais altas, enquanto a temperatura média global para a superfície do planeta está em 1,1oC. Os volumes de chuva também foram se modificando ao longo das décadas, tendo apresentado redução em áreas do Nordeste e Brasil Central do Brasil e aumento no Sul. “É uma chuva que não resolve os problemas de seca, mas gera outros problemas pela intensidade em curto espaço de tempo”, relatou.
O coordenador destacou ainda a análise elaborada para a Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima que utilizou abordagem integrada, considerando as seguranças hídrica, energética e alimentar para a indústria. Segundo ele, a variabilidade climática coloca questões preocupantes, como aumento de secas que podem gerar impactos na disponibilidade e qualidade da água utilizada nos processos industriais. Ele mencionou que, considerando o contexto nacional uma crise hídrica está atrelada à crise energética e alimentar. O documento da Comunicação Nacional também aponta caminhos para adaptação do setor industrial. “São relativamente conhecidos e, em muitos casos, o que precisa é serem amplamente aplicados e eventualmente ajustados”, afirmou Rojas.
Processo colaborativo e possibilidades de investimento – A coordenadora-geral de adaptação à mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Inamara Mélo, destacou o processo colaborativo na construção do Plano Clima e dos planos setoriais. Melo informou que em abril deverá ser lançada consulta pública sobre o Plano por meio da plataforma ‘Brasil Participativo’ do governo federal. O cronograma de atividades prevê ainda duas rodadas de debates temáticos com diferentes setores.
Após mencionar dados sobre os custos da inação comparados ao dos investimentos para enfrentar a crise climática, Mélo enfatizou que a agenda de adaptação deve ser observada como ações para evitar perdas futuras e que trará benefícios econômicos. “O financiamento da adaptação é oportunidade para empresas e investidores privados, e não ônus”, afirmou Mélo.
Na abertura, o secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC, Rodrigo Rollemberg, também enfatizou os custos da inação. “Os custos da remediação são muito elevados, e não são apenas financeiros”, disse. O secretário citou o exemplo recente da seca extrema no Amazonas que afetou a produção na Zona Franca de Manaus.
Para o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo, a agenda de adaptação é tão importante quanto a de mitigação e que apresenta oportunidade para avançar. “É uma agenda que a gente não só trata no âmbito da empresa, ou seja de uma companhia só, mas principalmente vendo todos os impactos de uma cadeia de produção. Acho importante ter essa visão integrada”, afirmou.
Plano Clima – A elaboração do Plano Clima consolidará a estratégia de implementação da política climática brasileira nas suas dimensões de mitigação e adaptação e contará com planos setoriais (8 de mitigação e 15 de adaptação), contendo metas e meios de implementação. O Plano Clima deverá ter vigência de 12 anos e ser revisto a cada quatro anos.
A elaboração do Plano Clima foi determinada pelo Comitê Interministerial de Mudança do Clima (CIM). As atividades são coordenadas pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). O MCTI atua na orientação técnico-científica. A construção do Plano Clima – Adaptação conta com o apoio do programa ProAdapta, da agência de cooperação alemã, GIZ.
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