O oceano e sua relação com as mudanças climáticas estiveram em evidência nos debates da reunião temática organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO), unidade vinculada à pasta, realizada nesta quinta-feira (04). O objetivo do evento foi buscar elementos que ajudem a consolidar o tema na agenda da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, identificando como a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico voltados para o oceano podem auxiliar no combate aos desafios nacionais e colaborar para o posicionamento do Brasil no cenário Internacional.
Na abertura, a secretária de Políticas e Programas Estratégico do MCTI, Marcia Barbosa, reforçou a atenção que o governo tem dado ao tema de mudança do clima e às ações na direção de reverter esse processo. “Temos um governo que se preocupa com os impactos das mudanças climáticas, que são esses desastres – sejam eles secas ou chuvas excessivas – e que compreende que somente através da ciência vamos conseguir, não só atuar para tentar reverter as questões de mudanças climáticas, mas também para ações para estarmos mais preparado para os impactos”, afirmou Barbosa.
A secretária destacou ainda a cooperação com outros ministérios, como Meio Ambiente e Pesca, e outras instituições para articular instrumentos e ações que envolvam o tema oceano. No âmbito internacional, Barbosa mencionou a recente viagem à Rússia e a possibilidade de cooperação científica na região do Ártico para detectar gases de efeito estufa e de microplástico. “Seremos capazes de trazer soluções coordenas para os desafios para o Brasil”, disse.
O diretor-geral do INPO, Segen Estefen, destacou a finalidade da reunião temática em contribuir para reforçar o oceano como agenda prioritária nacional e internacional e a necessidade de tratar o tema de modo multidisciplinar, envolvendo diferentes conhecimentos na ciência, na tecnologia e na inovação. “O oceano e as mudanças climáticas são intimamente ligados, nos dois sentidos. O oceano é influenciado pelas mudanças climáticas e influencia as mudanças climáticas. Precisamos entender isso melhor”, afirmou o diretor.
O secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar da Marina do Brasil, contra-almirante Ricardo Jaques Ferreira, destacou os planos de estabelecer um acordo de colaboração técnica com o INPO para assessoramento na implementação do planejamento espacial marinho, especialmente em áreas envolvendo uso e preservação. “Nas situações em que tivermos uma discussão mais aprofundada para sabermos em que direção a matriz vai caminhar, queremos contar com o apoio da rede de pesquisadores do INPO. Sem a ciência não conseguimos chegar aos resultados que o País precisa”, afirmou o contra-almirante Jaques.
A diretora de Oceano e Gestão Costeira na Secretaria de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Paula Prates, lembrou que o tema oceano alcançou destaque na Conferência do Clima em Dubai, está em evidência nas conferências de meio ambiente e de ciência e tecnologia e no governo. “Estamos falando principalmente da relação entre oceano e clima”, afirmou. “Temos muitos desafios e oportunidades”, complementou ao mencionar a recuperação de áreas degradadas e a manutenção da saúde do oceano para que se mantenha e permaneça como um regular climático global, absorvendo calor e gases de efeito estufa.
Indicadores climáticos e oceano – O oceano absorve cerca de um quarto das emissões anuais de CO2. A interação do dióxido de carbono com a água do mar altera a química do carbonato resultando na redução do pH. Esse processo é conhecido como ‘acidificação’. De acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), o pH da superfície do oceano aberto é a mais baixa dos últimos 26 mil anos.
O Relatório do Estado do Clima Global publicado no mês passado pela Organização Meteorológica Mundial aponta que o ano de 2023, além de ter sido o mais quente, quebrou todos os recordes dos indicadores climáticos. De acordo com a publicação, o conteúdo de calor dos oceanos atingiu o nível mais alto em 65 anos de registros observacionais e o conjunto de dados mostra um aumento particularmente forte nas últimas duas décadas. “O aumento da temperatura do oceano não é uniforme. O oceano atlântico aparece mais quente comparado a outros áreas oceânicas”, afirmou o coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI, Márcio Rojas, ao apresentar o mapa global.
O aumento do nível do mar por registros de satélites atingiu o máximo histórico e, nos últimos dez anos, é mais que o dobro comparado ao início dos registros em 1993. O aquecimento contínuo e o derretimento de glaciares e camadas de gelo estão entre os fatores que contribuíram. “Os impactos estão ficando cada vez mais frequentes e mais intensos à medida que a mudança do clima avança”, disse Rojas.
Assista à íntegra do evento neste link.