Cerca de 30% dos municípios brasileiros apresentaram pelo menos um mês de condição de seca severa, extrema ou excepcional em 2023. Foram 1.677 municípios classificados com graus de severidade mais elevados de seca. Os dados são do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que monitora a condição de secas e seus impactos diretos e indiretos no Brasil.
O quantitativo de municípios impactados em 2023 abrangeu mais de 4 milhões de km² de área territorial e uma população estimada em mais de 42 milhões de habitantes, segundo dados do Censo de 2022.
“A seca é reconhecida como a tipologia de desastre que afeta o maior número de pessoas no Brasil e provoca os maiores impactos econômicos no país”, afirma a especialista em monitoramento de secas do Cemaden, Ana Paula Cunha.
“A cada ano milhões de pessoas são impactadas por essa tipologia de desastres, o que demanda monitoramento contínuo, com vistas a subsidiar a implementação de medidas adequadas de preparação, de mitigação, de respostas e de convivência, visando reduzir as vulnerabilidades sociais e minimizar as perdas econômicas que impactam diferentes setores produtivos do Brasil”, ressalta a diretora do Cemaden, Regina Alvalá.
O diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do MCTI, Osvaldo Moraes, lembra que em 2023 foram registrados os índices de precipitação mais baixos dos últimos 40 anos, especialmente no período de julho a setembro. “Isso teve um impacto adicional na hidrologia. A impossibilidade de navegação em muitos rios impediu o abastecimento das populações. Desde alimentos até o fornecimento de energia além de, obviamente, aumentar o risco dos incêndios”, exemplifica. Em outubro, 59 dos 62 municípios da Amazônia estavam em situação de emergência. “A seca de 2023, além da severidade, trouxe um alerta para as consequências da seca prolongada. O monitor de seca do Cemaden é uma importante ferramenta para tomadores de decisão”, afirma.
Plataforma ‘Alerta-Secas’
Além de emitir mensalmente os boletins de monitoramento de secas e impactos e do risco da seca na agricultura familiar, o órgão disponibilizou neste mês a plataforma ‘Alerta-Secas’, em que é possível visualizar os dados de modo georreferenciado de modo mais acessível aos usuários.
Segundo a pesquisadora Ana Paula, a plataforma permite acompanhar a evolução das condições de seca em cada município do Brasil. “A partir do monitoramento detalhado pode-se estimar os impactos em diversos setores, considerando a intensidade e duração da seca. Dependendo da região e do momento em que as secas ocorrem, os impactos podem ser particularmente sentidos na produção agrícola ou nos recursos hídricos”, explica.
O sistema utilizado pelo Cemaden para o monitoramento de seca é resultado de avanços técnico-científicos recentes e adota uma abordagem multidisciplinar. O Índice Integrado de Secas (IIS) considera informações sobre chuva, umidade do solo, saúde da vegetação, entre outros dados. A combinação permite avaliar a progressão e os impactos das secas em diferentes regiões do país.
O IIS-3 é indicado para avaliar os efeitos da seca na agricultura, em culturas de ciclo curto. O IIS-6 representa as condições de seca nos últimos seis meses, possibilitando uma visão mais ampla e abrangente da situação de seca à médio prazo. A plataforma também permite acompanhar os percentuais de áreas agroprodutivas potencialmente afetadas.
A pesquisadora explica que o índice, aliado ao monitoramento mensal das áreas agroprodutivas afetadas pela seca, são ferramentas relevantes para o planejamento e preparação contra os impactos das secas, especialmente na agricultura familiar. As informações também subsidiam o reconhecimento emergencial dos municípios afetados pelas secas pelo Governo Federal. Cunha classifica os dados como uma “valiosa contribuição científica para os tomadores de decisão, provendo dados e análises fundamentais para a implementação de medidas de enfrentamento dos impactos das secas”.
Acesse os boletins de monitoramento da seca aqui e o mapa interativo aqui