Os desafios científicos e tecnológicos para a produção de alimentos frente os impactos sistêmicos da emergência climática foi tema do painel, realizado na terça-feira (16), em Brasília (DF), durante a Conferência Livre de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) para a Transformação Ecológica dos Sistemas Agroalimentares promovida pela Embrapa. O evento integra as etapas preparatórias para a Conferência Nacional de CTI que será realizada em junho pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI, Márcio Rojas, apresentou dados globais e nacionais sobre a mudança do clima em curso, enfatizando que 2023 foi o ano mais quente já registrado e que as perspectivas, mesmo se todas as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) apresentadas pelos países à Convenção do Clima forem implementadas integralmente, apontam para um cenário em é provável que o aquecimento exceda 1,5oC e mais difícil de limitar abaixo de 2oC até o fim do século 21. “As políticas públicas precisam dar conta desses desafios. Concretamente, o que tem sido colocado na mesa em âmbito global não tem sido suficiente”, disse.
Rojas apresentou dados do estudo executado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que mostram as alterações nos padrões de chuva e de temperaturas. Nos últimos 60 anos, algumas regiões Nordeste e central do país apresentaram redução de cerca de 30% na média de chuvas, enquanto no Sul houve aumento que se aproxima de 40%, além da tendência de aumento de dias secos consecutivos. “Isso traz uma série de impactos na produção agrícola de modo direto e indireto e que estão relacionados com outras questões. Tratar de segurança alimentar é também falar de segurança hídrica e, no Brasil, por conta matriz energética, de questões de segurança energética”, afirmou Rojas.
Rojas mencionou dados da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima que apresenta projeções sobre a produtividade da agropecuária brasileira considerando cenários de aquecimento global. “Os riscos climáticos podem comprometer a produtividade e também a competividade do setor, como a diminuição de áreas propensas ao cultivo de algumas culturas”, exemplificou. Ele citou ainda caminhos para adaptação, como a adoção de práticas sustentáveis que protegem encostas, nascentes, solo, evitar a perda de cobertura vegetal, entre outras, que “preservam a qualidade dos serviços ecossistêmicos e reduzem a vulnerabilidade dos sistemas”.
Importância do setor para a redução das emissões – O painel contou com a participação de representantes de outras pastas ministeriais. A subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Ministério da Fazenda, Cristina Reis, mencionou os instrumentos que a Fazenda está desenhando, como a possibilidade de pagamento pelos sistemas agroflorestais, investimentos para indústria, e regras para evitar o greenwashing.
O diretor da Secretaria Nacional de Mudança do Clima do MMA, Aluísio Melo, ressaltou a importância do setor agropecuário para a reduções de emissões de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil nos médio e longo prazos. Segundo Melo, para cumprir os compromissos de redução de emissões e de alcançar a neutralidade de emissões em 2050 haverá necessidade que avançar rapidamente na redução das emissões oriundas de uso da terra e das atividades agropecuárias. As atividades também apresentam potencial de remoção de carbono, as chamadas emissões negativas. “Qualquer cenário para o Brasil ser neutro em 2050 é de emissões negativas. Atividades como restauração florestais devem ter um papel de sumidouro”, afirmou.
De acordo com a 6ª edição das Estimativas Anuais, de 2020, as emissões do Setor Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas (LULUCF) somadas as do Setor Agropecuária respondem por 66,5% das emissões totais do Brasil.
A representante da Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, Karen Cope, apresentou uma perspectiva estratégica, considerando os desafios que o país terá no horizonte até 2050, e os desafios do cenário internacional para o setor agroexportador, como as novas medidas envolvendo o comércio internacional que envolvem rastreabilidade de produtos e taxação de carbono na fronteira. O moderador do painel e assessor da Embrapa, Gustavo Mozzer, reforçou que o desafio envolve manter a competitividade em cenários futuros, e destacou a necessidade de produzir dados e informações estratégicas que permitam melhorar as análises.
Assista à integra da Conferência Livre para Transformação Ecológica dos Sistemas Agroalimentares aqui.