A ascensão das tecnologias de inteligência artificial (IA) está moldando uma nova ordem geopolítica, com os Estados adotando diferentes abordagens para maximizar seus interesses e manter sua soberania tecnológica. Esse fenômeno pode ser observado em três níveis distintos de atuação governamental. Os países que estão na vanguarda do desenvolvimento de IA, como Estados Unidos, China, Rússia e, de forma emergente, a Índia, adotam políticas protecionistas para garantir que suas empresas líderes mantenham uma vantagem competitiva global, investindo pesado em pesquisa e desenvolvimento, enquanto implementam barreiras contra pressões externas e competição desigual.
Um segundo grupo se destaca pela implementação de regulamentações rigorosas, com a União Europeia como exemplo proeminente e o Brasil ascendendo nesse cenário, promovendo um quadro legal que visa proteger direitos fundamentais e assegurar o uso ético da tecnologia. Por fim, um terceiro grupo é composto por nações que não desenvolvem tecnologia de IA em grande escala e têm regulamentações frágeis ou inexistentes, mas que são essenciais na cadeia de suprimentos global, fornecendo recursos como lítio e silício para a produção de IA.
O debate em torno da regulação da IA se torna, assim, um campo de batalha que pode intensificar os atritos entre Estados e empresas de tecnologia. À medida que países do grupo 2, como a União Europeia e o Brasil, buscam implementar regulamentações robustas, as intervenções de figuras como Musk revelam uma tentativa de minar essas iniciativas, colocando em risco a soberania tecnológica das nações. Dessa forma, o verdadeiro objetivo desses indivíduos não é apenas defender a liberdade de expressão, mas estabelecer um ambiente onde suas empresas possam operar com o mínimo de restrições. Essa desregulação cria um cenário que facilita a ascensão de lideranças políticas que prosperam na anarquia, utilizando plataformas digitais para propagar ideologias extremistas e dividir a sociedade. A ausência de regulação favorece discursos que ameaçam diretamente a democracia e a coesão social, refletindo uma crescente tensão nas relações internacionais.
Essa dinâmica demonstra que a luta por regulação não é apenas uma questão interna, mas uma batalha geopolítica que influencia o equilíbrio de poder global. A consolidação de normas para o ambiente digital é, portanto, uma questão urgente que requer a colaboração entre nações para evitar que interesses corporativos prevaleçam sobre as necessidades da sociedade. Sem um consenso global sobre as regras do jogo, o futuro da democracia e da coesão social poderá estar em perigo, com as potências emergentes lutando para estabelecer um ambiente digital seguro e responsável diante da pressão de atores poderosos. É imperativo que as instituições desses países consigam responder de maneira eficaz à pressão por interferência direta das empresas em suas políticas locais, garantindo que os direitos dos cidadãos sejam protegidos e que o espaço digital não se transforme em um terreno fértil para abusos travestidos de liberdade.
*Guilherme Frizzera é doutor em Relações Internacionais e coordenador do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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