No Brasil 25,4 milhões de pessoas estão trabalhando por conta própria. O número ficou estável frente ao trimestre anterior e caiu 2,0% no ano — menos 509 mil pessoas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE. Na opinião do professor Riezo Almeida, coordenador do curso de Ciências Econômicas do IESB, em Brasília, as pessoas estão em busca de maior flexibilidade, principalmente no pós-pandemia. Segundo o especialista, além de trabalhar as pessoas procuram ter equilíbrio na vida, com vida social, cultura e lazer.
“Uma das coisas que mudou hoje é a forma de você trabalhar. Então muita gente prefere estar trabalhando como autônomo para conseguir ter uma renda nos dias e nos horários que preferem do que estar no emprego formal. Eles querem mais independência e autonomia”, observa.
O economista Aurélio Trancoso acrescenta mais um argumento: essa informalidade começou ainda na pandemia, quando as pessoas foram para dentro de casa e começaram a fazer coisas que sabiam fazer para ganhar algum dinheiro.
“Infelizmente, nós ficamos mais pobres no pós-pandemia. A situação é bem delicada. Você tem muita gente procurando emprego, o índice de desemprego ainda é muito alto no Brasil, você está aí com 7.8, se não me engano, de desempregados e as pessoas têm que se virar. E elas começaram a trabalhar lá na pandemia. Tiveram algum sucesso e passaram a exercer isso”, avalia.
O especialista também destaca que o valor da contratação está bem menor do que era na época da pandemia. Com isso, ele diz que o empresário, além de ele estar contratando com valor mais baixo, a procura também é muito grande. “A oferta de emprego é menor do que a quantidade de pessoas que querem trabalhar, naturalmente o preço cai, a remuneração cai. Então isso aí está fazendo com que as pessoas comecem a ir para a informalidade”, ressalta.
Trabalhadores na informalidade
De acordo com o levantamento, a taxa de informalidade foi de 39,1 % da população ocupada — ou 38,9 milhões de trabalhadores informais —, contra 38,9% no trimestre anterior e 39,7% no mesmo trimestre de 2022.
Júlia Carneiro é professora e moradora de Patos de Minas (MG). No início da pandemia, ela ficou desempregada após não conseguir fechar turmas para as suas aulas do Ensino Fundamental. “O trabalho era pela prefeitura, eu sempre pegava aulas por contrato — e com a pandemia não houve contratação”, explica.
A professora conta que, por morar com os pais, teve a sorte de não ter passado por dificuldades financeiras em casa, mas que, por outro lado, a situação não foi favorável à sua saúde mental. “Foi angustiante, fiquei bem deprimida, sem saber o que fazer. As minhas despesas pessoais eu fui pagando com as economias que eu já tinha e decidi não ficar parada”.
Foi assim que a Júlia decidiu abrir o próprio negócio de cosméticos. “É algo que eu amo, comprar e usar. Então seria mais fácil começar por algo que gosto e conheço bem. Hoje tenho o meu espaço em casa e trabalho com produtos a pronta entrega, cestas, presentes”, conta.
Desemprego
Segundo o IBGE, existem hoje 8,6 milhões de pessoas desempregadas no país. A taxa de desemprego corresponde a 8,0%, só no segundo semestre de 2023. “O custo de vida aumentou e as pessoas passaram a ganhar menos e essa informalidade ela tem tudo a ver com essas pessoas que realmente precisam trabalhar, precisam sustentar suas famílias e acabaram indo para a informalidade que eles acabam ganhando mais”, reforça Trancoso..
O professor Riezo Almeida, coordenador do curso de Ciências Econômicas do IESB, em Brasília, faz um alerta. “Cada vez mais as pessoas querem ter a sua autonomia. Então, autonomia e independência financeira estão relacionadas diretamente com esse trabalho autônomo”. Segundo Riezo, a pessoa precisa pagar os impostos para ter os benefícios de aposentadoria, ter a renda dentro do seu estilo de vida. Ele diz ainda que “muitos empregos hoje em dia têm uma precarização, principalmente esses de plataforma, onde o trabalhador, mesmo sendo autônomo, trabalha muito mais horas em relação ao trabalho formal”.