Você já ouviu falar em neoindustrialização? Ricardo Alban, novo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), tem afirmado a nova industrialização como uma das prioridades do país.
“Hoje, no Brasil, todos falam da necessidade de uma nova indústria, a chamada neoindustrialização. Se nesse momento estamos todos tão consicentes dessa necessidade, temos a responsabilidade e obrigação de aproveitar essas oportunidades, traçar políticas públicas convergentes, ter foco e garantir as verdadeiras entregas. E, dentro dessas entregas, o Brasil tem a oportunidade de voltar para o mercado internacional com indústrias de manufaturas de produtos verdes, descarbonizados.”
Paulo Silvestre, especialista em desenvolvimento estratégico, explica o que é. “A neoindustrialização nada mais é do que o processo de modernização do setor industrial, com empregos de novas tecnologias que estão assumindo protagonismo no nosso dia a dia, como automação, inteligência artificial. Esse conceito é extremamente relevante, onde se fala tanto de economia verde, indústria 4.0. De certa forma, isso está redefinindo o panorama industrial”.
Representantes do setor apontam que a retomada da indústria é fundamental para que o país cresça de forma consistente. Só assim seria possível interromper os “voos de galinha” da economia brasileira, acredita Marco Antonio Rocha, pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“É muito difícil um país se desenvolver sem uma indústria forte ou, pelo menos, manter um ritmo de crescimento sustentável ao longo dos anos que não seja nesse tipo de crescimento que a gente vê na economia brasileira, que cresce dois anos, para dois anos, cresce dois anos, para dois anos. Tudo isso depende de uma boa base industrial e de uma estrutura produtiva manufatureira”, avalia.
Segundo Silvestre, quanto mais industrializado o Brasil se tornar, menos vulnerável será, principalmente em relação à balança comercial. “A industrialização impulsiona a inovação, o desenvolvimento tecnológico e a criação de uma cadeia produtiva mais robusta, mais diversificada, reduzindo a dependência do Brasil em relação às exportações de commodities, que muitas vezes estão sujeitas à flutuação do preço do mercado internacional”, destaca.
Daniel Caiche, especialista em mercado de carbono, afirma que o Brasil também tem na neoindustrialização uma oportunidade para inserir pessoas no mercado de trabalho. “Ela tem um potencial para a geração de crescimento e transição da economia atual para uma economia de baixo carbono, representando uma grande janela de oportunidade para a geração de novos empregos, e chamados atualmente de os empregos verdes”, pontua.
Histórico
Em meados da década de 80, a indústria representava quase 36% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, de acordo com o FGV Ibre. Mas, em 2023, o setor responde por 23,9% de toda a riqueza produzida pelo país. A esse processo dão o nome de desindustrialização da economia brasileira. Se entre os anos 50 e 80, a indústria brasileira se expandiu, nas últimas quatro décadas — tendo como parâmetro a participação do setor no PIB – houve queda da atividade, seguida por estagnação.
Durante a cerimônia de posse no último dia 31, o novo presidente da CNI lembrou que a indústria precisa recuperar a produtividade em declínio nas últimas décadas. “A indústria brasileira vem perdendo a capacidade de competir nos mercados globais, o que é retratado de forma cristalina na nossa produtividade. A produtividade da indústria de transformação brasileira caiu quase 1% ao ano desde 1995. Enquanto cada hora trabalhada no Brasil gerava R$ 45 em produtos em 1995, hoje ela gera só R$ 36”, comparou.
Ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Alban substitui Robson Braga de Andrade e ficará à frente da entidade por quatro anos.