Antes de explorarmos o conceito da Economia da Atenção, proponho um exercício rápido: tente recordar todas as dicas interessantes, vídeos engraçados e temas impactantes que capturaram sua atenção no dia anterior, sem consultar seu histórico de mensagens nas redes sociais, aplicativos ou qualquer outro recurso digital. Foi fácil ou difícil lembrar? Isso depende de quanto engajamento você dedicou aos canais de comunicação, redes sociais e plataformas de vendas – quanto mais informação você recebeu, mais difícil é lembrar daquilo que impactou.
Na economia da atenção, o recurso mais disputado pelas empresas é o seu tempo, especialmente aquele que deveria ser livre, destinado ao descanso e ao lazer. Os filósofos Adorno e Horkheimer, na metade do século passado, já nos alertavam sobre o “Tempo Livre”, que deveria ser uma pausa genuína para o rejuvenescimento, mas que na verdade, se tornou mais uma extensão do trabalho, com as corporações explorando cada momento de distração para manter o controle sobre nossa atenção.
Quando você decide relaxar e se diverte com conteúdos interessantes ou engraçados nos aplicativos, a impressão é de que você está desconectado, mas na verdade sua atenção está sendo minerada de forma sistemática. Imagine-se supostamente descansando enquanto “alguém” oferece “cookies” – nesse momento, você deveria seguir o conselho dos seus pais e não aceitar doces de estranhos. O conforto proporcionado pela navegação guiada por algoritmos mascara a perversidade do processo: esses “cookies” não são apenas biscoitos, mas instrumentos que induzem comportamentos danosos, alimentando a ânsia de possuir e o tédio de ter, como nos advertiu o filósofo alemão Arthur Schopenhauer há mais de um século.
A comodidade que esses algoritmos oferecem ao nos pouparem do esforço de pensar é na verdade uma armadilha. Do outro lado da tela, como um espelho falso, uma programação sofisticada e orientada para o consumo está sequestrando nossa capacidade de discernimento e tornando-nos alvos fáceis para a manipulação. A oferta aparentemente inofensiva de conteúdos e produtos é, na verdade, uma estratégia meticulosamente planejada para extrair valor da nossa atenção. Enquanto você acredita que está apenas desfrutando de um momento de prazer ou interesse, sua atenção – um recurso valioso – já está sendo capturada e vendida.
Os algoritmos utilizam essa informação para criar perfis precisos que serão usados para maximizar o consumo, minando assim o ecossistema social. Cada clique, cada segundo de engajamento, é um tijolo a mais na construção de um mercado que vê os indivíduos como solos férteis para serem explorados e minerados incessantemente, até que o ambiente social que habitamos seja completamente devastado pela corrida insaciável por lucro.
Nossa atenção é capturada tanto no tempo livre quanto no tempo de trabalho. Se o acesso ao celular é visto como necessário para se manter atualizado, fica difícil discernir quem realmente está se beneficiando mais dessa atenção. O que deveria ser um momento de foco em resultados econômicos efetivos pode, na verdade, estar sendo desperdiçado por desvio de atenção, ou pior, estar sendo explorado sem que você perceba.
Se você prestou atenção ao que foi dito, experimente agora direcionar essa atenção para si mesmo. Tente mantê-la sem compartilhar ou entregar esse recurso tão valioso, constantemente disputado pelo mercado, a ninguém. Use esse tempo para resgatar o controle sobre o que realmente importa para você.
*Marcos José Valle é Bacharel em Ciências Econômicas, Mestre em Educação, Doutro em Sociologia. Professor do curso de Ciências Econômicas, Uninter.
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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