A Conferência Temática sobre Tecnologia Nuclear foi realizada, no Rio de Janeiro (RJ), nos dias 20 e 21 de março, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT). O debate irá gerar insumos para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI), que acontecerá de 4 a 6 de junho, em Brasília.
Os debates foram organizados em quatro eixos temáticos: “Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação”, “Usos Socioeconômicos da Tecnologia Nuclear”, “Programas e Projetos Estratégicos Nacionais” e “Ensino, Formação Especializada, Mercado de Trabalho e Comunicação Pública”, e a coordenação do evento foi da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN.
Paula Helena Ortiz Lima, diretora-presidente do Centro de Inovação e Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC), comentou que a área nuclear tem um grande potencial de inovação, entretanto, esse potencial está represado, seja pela questão do parque de equipamento instalado, considerado obsoleto para realização de pesquisas de ponta, seja pela falta de recursos humanos especializados.
“É primordial a necessidade da renovação de recursos humanos. Existe o potencial, mas ultimamente o setor enfrenta grandes desafios. Acredito que melhorando a questão da comunicação, fazendo com que a sociedade e o governo entendam a importância da área nuclear brasileira em diferentes áreas de atuação como a medicina nuclear, sustentabilidade e as contribuições na agricultura, o cenário evolua”, pontuou, destacando que, indo ao encontro da descarbonização, a energia nuclear é uma fonte de energia limpa e, é a partir daí, que o potencial do setor pode ser destacado.
Segundo o pesquisador e membro da Diretoria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), Marcos Toscano, um dos maiores desafios do setor é explicar para a sociedade a sua missão de forma clara, compreensível e concreta, deixando evidente o que entrega hoje é o que pode entregar no futuro.
“Estamos em um momento crítico para o setor nuclear do Brasil. Isso ocorre por conta do modelo jurídico que foi pensado para ele, no passado”, disse Toscano, sugerindo um novo modelo que poderia “incentivar um florescimento de um ecossistema de empresas nacionais que trabalham com inovação no setor nuclear, tanto na área de mineração quanto no desenvolvimento de novos modelos de reatores, como também em a linha de P&D aplicada ao setor nuclear, como o que está acontecendo nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo”.
Maurício Guedes, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro, mediou o primeiro dia de debates. O evento contou com a participação de especialistas da própria CNEN e de várias instituições do setor nuclear brasileiro, como Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), Amazul, Marinha do Brasil, Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), WiN Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Faperj, entre outras.
No quesito Fomento e cooperação, a professora Helen Khoury, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), destacou a necessidade de integração entre CNEN, universidades e empresas para promover financiamentos e cooperações eficazes e importância do fortalecimento da CNEN como órgão articulador para distribuir recursos e promover a integração entre os setores público, acadêmico e empresarial, visando difundir a cultura empreendedora e encontrar soluções para os desafios enfrentados.
Já o pesquisador do IFUSP Gustavo Canal, falou sobre a Fusão nuclear como fonte de energia no painel “Geração de energia, SMR [acrônimo do inglês Small modular reactors], fusão nuclear”. O Laboratório de Fusão Nuclear (LFN), um projeto estratégico do MCTI coordenado pela CNEN em colaboração com o INPE, é destacado como fundamental para o Brasil, devido ao potencial da fusão nuclear como uma fonte de energia comercial. No entanto, é ressaltada a necessidade de uma política de formação de recursos humanos e a participação do setor privado nacional para o sucesso do projeto. “O projeto executivo já está pronto, a gente apenas aguarda a liberação dos recursos”.
Francisco Rondinelli, presidente da CNEN, aproveitou para enfatizar a urgência de estabelecer o Programa Nuclear Brasileiro, reconhecido pelo Governo Federal como estratégico para o país. O debate aconteceu no painel “Indústria, saúde, agronegócio, meio ambiente e cultura”, moderado por Aldo Malavasi, ex-diretor-geral adjunto da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
“Uma agenda nuclear consolidada terá amplo impacto no desenvolvimento nacional, gerando empregos, agregando valor aos produtos e serviços e garantindo a sustentabilidade do setor nuclear brasileiro, além de aumentar o acesso da população aos benefícios da tecnologia nuclear”, destacou, lembrando a importância de tornar o programa uma política de Estado de longo prazo, independente de mudanças de governo, para garantir continuidade e estabilidade.
Ainda houve mesa sobre “Ciclo do combustível, minerais estratégicos”, com representantes da CNEN, Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Marinha do Brasil, Serviço Geológico do Brasil (SGB) e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR). E apresentação dos projetos estratégicos da CNEN, como o RMB, CENTENA, LABGENE e PROSUB; Formação e Percepção Pública e sobre Transparência e consciência cidadã.
Por Bel Neta, com informações da CNEN