O setor privado pretende investir cerca de R$ 23 bilhões na área da saúde até 2026. A estimativa é do governo federal, que espera que as parcerias público-privadas possam fortalecer a produção interna de matérias-primas para o setor.
O presidente eleito da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, defende os investimentos para o crescimento do setor industrial da saúde no país.
“Se nós temos uma nova indústria, se nós falamos na neoindustrialização, nós precisaremos de uma nova CNI para dar margem, dar acompanhamento e dar as respostas e as entregas necessárias para o desenvolvimento da indústria nesse país. Ela precisa cada vez mais se desenvolver e ter a sua importância relativa dentro do universo da economia. E a saúde certamente é uma prioridade nossa”, ressalta.
Na opinião do economista Jose Luis Oreiro, a demanda por insumos farmacêuticos para a produção de vacinas, por exemplo, é muito grande e substituir as importações desses materiais para investir na produção interna pode trazer vantagens econômicas que vão muito além da simples redução do valor das importações.
“A indústria farmacêutica é uma indústria de média e alta tecnologia. Quando você substitui a importação de insumos farmacêuticos e passa a produzi-los em território nacional, você cria no país empregos de alta qualidade, ou seja, empregos que pagam bons salários”, avalia.
O especialista diz ainda que, quando se passa a produzir no Brasil insumos farmacêuticos, o país também ajuda a desenvolver a cadeia de fornecedores para a produção das matérias-primas. “Novas indústrias vão ser criadas em função das indústrias que vão ser introduzidas para a produção de insumos farmacêuticos”, pontua.
Para o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), integrante da Frente Parlamentar Mista da Indústria de Máquinas e Equipamentos e da Frente Parlamentar da Ciência, Tecnologia, Pesquisa e Inovação, investir na produção interna de insumos, pesquisa e inovação aumentará a visibilidade do Brasil.
“Quanto mais você se torna um país menos vulnerável, mais independente, mais importante você fica no mundo inteiro. A autonomia na produção desses produtos para nós é uma garantia de sustentabilidade e independência com relação aos mercados mundiais”, salienta.
Complexo Econômico-Industrial da Saúde
O governo federal pretende investir, até 2026, R$ 42 bilhões na política industrial brasileira voltada para a área da saúde. O decreto que institui a Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde foi assinado na última terça-feira (26).
Ao todo, serão seis programas estruturantes com o propósito de expandir a produção nacional de itens prioritários para o SUS e reduzir a dependência do Brasil de insumos, medicamentos, vacinas e outros produtos de saúde estrangeiros.
Para a ministra da Saúde, Nísia Trindade, essa estratégia dentro da política da nova industrialização deve ser ampliada, com o fortalecimento das parcerias público-privadas.
“Precisamos criar um ambiente institucional que favoreça o investimento, a inovação, a capacitação e a geração de empregos. São 20 milhões de empregos qualificados no setor (…) precisamos impulsionar a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação”, destaca.
De acordo com o governo, ainda existem R$ 9 bilhões previstos pelo Novo PAC; a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com R$ 6 bilhões; e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), com outros R$ 4 bilhões. Dessa forma, o Ministério da Saúde espera suprir o SUS com produção e tecnologia locais, além de frear o crescimento do déficit comercial do saúde em 80% no prazo de 10 anos.
Um levantamento do Ministério da Saúde revela que mais de 90% da matéria-prima usada no Brasil, para produção de insumos como vacinas e medicamentos, é importada. Na área de equipamentos médicos, a produção nacional atende 50%. Em medicamentos prontos, o percentual é de cerca de 60% e, em vacinas, um pouco acima. Com o apoio do setor privado, o governo espera atingir a meta de 70% de produção local no setor.